O estado do Pará cedeu a Ford pouco mais de um milhão de hectares, um pouco menos do que Ide havia delineado no mapa, a mil quilômetros de Belém e 160 km de Santarém. Metade eram terras públicas, que Ford recebeu de graça, e metade provinha de reivindicação de Villares, pela qual ele deveria pagar 125
mil dólares. Ali havia a aldeia Boa Vista, de propriedade da família Franco, egressa da Revolta da Cabanagem, de 1835. A aldeia foi comprada por quatro mil dólares à vista (p. 125) e a Companhia Ford Industrial do Brasil ficou sendo a proprietária legal das terras. Em 30 de setembro de 1927 o legislativo estadual paraense ratificou a concessão.
Apesar destas dificuldades, ao final de 1930 “parecia que a Fordlândia tinha superado seu começo difícil” (p. 231): índios mundurukus forneciam um suprimento de sementes nativas; equipes de saneamento inspecionavam roupas, disposição do lixo, casas dos trabalhadores; oito mil metros quadrados de seringais estavam formados, com mudas de 1,80 de altura alinhadas em “filas perfeitas”; a “docilidade dos trabalhadores brasileiros” era elogiada em relatórios. Foi então que uma sublevação foi deflagrada em dezembro de 1930 e seu estopim foi o novo sistema de refeições: seu custo passava a ser deduzido dos salários, sua dieta seguia os gostos de Henry Ford (aveia, cereais integrais, enlatados), filas substituíram garçons e o novo refeitório, de concreto e telhas de amianto, era uma fornalha. “A multidão ficou enlouquecida. Depois de demolir o refeitório destruíram tudo que pudesse ser quebrado [...] arrancaram pilares do píer, atiraram cargas no rio, destruindo caminhões, tratores e carros, queimaram arquivos e atearam fogo à oficina [...] Cantavam “o Brasil para os brasileiros, matem todos os americanos” (p. 234, 236).
Resenha do livro “Fordlândia – ascensão e queda da cidade esquecida de Henry Ford na selva”. GRANDiN, Greg; tradução de Nivaldo Montingelli Jr. - Rio de Janeiro: Rocco, 2010, 397pgs. (copyright 2009).
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